quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Nova caixa de memorias!

Acho que é comum. Até mesmo típico. Agarramo-nos às coisas e nem sabemos bem porquê ou para quê. Guardamos os brinquedos de infância, as fotografias de amigos que já não o são, aquelas calças onde nunca mais nos voltaremos a conseguir enfiar, as revistas com artigos que um dia achámos interessantes, os flyers de festas onde nos divertimos à grande, os números de telefone de pessoas que já nem nos lembramos quem são.
Guardamos tudo, num saudosismo nem sempre saudável. Às vezes mesmo patético. Agarramo-nos a coisas não pelo que são mas pelo que representam, como se as termos ali connosco nos devolvesse momentos que foram e não voltam mais.
O ser humano é saudosista por natureza. Temos dificuldade em seguir em frente, em libertarmo-nos das coisas. Será que perdemos assim tanto se o fizermos? O que aconteceria se recolhessemos a âncora e partíssemos rumo ao horizonte?

Tinho medo que o meu saudosismo se tivesse transformado em esquizofrenia e me estivesse a devorar a sanidade que me restava. Tinha medo que as minhas lembranças de outros tempos me tinham sugado o espírito para uma realidade paralela dentro de mim, feita de memórias e concebida por medida, e eu fosse agora como um morto-vivo, vagueando por aí sem alma, como se diz dos espíritos. Que ficam tão ligados à Terra que não conseguem seguir a "luz".
Estava agarrada a ti. Não conseguia largar-me do tempo e da dor. Enfiei-me na caixa de memórias e magoas, não absorvia a imprevisibilidade da traiçao, entrei em negação!

Deixei que me sugasses para o passado, onde não teria mais de lidar com lembranças e finais (odeio finais). Fiquei por lá, bati o pé e não quis sair. Bem tentaram trazer-me de volta. Perdi-os todos de tão agarrada a ti que fiquei. Bati-lhes, insultei-os, mandei-os embora. Que direito têm eles de me querer afastar de ti? De quererem que te largue?
(...)
Mas tu não existes. Não sou eu o espírito. És tu. Morreste na minha vida, tenho medo que não tenhas encontrado a luz, e que ainda por cá vagueis, alma penada. Mas estás definitivamente morto para mim.
Acordo para a luz do dia. Do dia de hoje. Tempo presente. Jogo fora a caixa de memórias e respiro fundo. É um novo dia e eu tenho uma nova caixa para encher de risos.
Do dia 3 deste mes não passaste mais.
Foste directa para o caixote do lixo.

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