quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Tunel de som

A minha pequena poesia não chega. As palavras pequenas que conheço não são suficientemente grandes para comportar o que quero, quero novas palavras, palavras inventadas com sabor a cheio, à plenitude do seu significado, ao que me percorre a mente em vocábulos menores. As rimas que construo de forma esforçada são deficientes, insuficientes, queria rimas de sons impossíveis, de palavras inteiras, o poema supremo, onde uma vida toda de emoções seria descrita. É preciso uma nova linguagem, para quem não sabe pintar em cores garridas o que é preciso dizer, ou não consegue arrancar uns sons trémulos e ricocheteados do sentimento a um instrumento, ou para aqueles cuja impossibilidade socialmente incorrecta e comprometedora de gritar as entranhas para fora do corpo é demasiada para poder ser suportada posteriormente. Porque estas palavras já não chegam. Sim, confesso, já não me chegam. Provavelmente não poderei estender esta minha visão a outros, seria ridículo distribuir um abaixo-assinado que ninguém iria apoiar, escrevinhando o seu nome por baixo da minha sugestão. Quem não sabe fazer uma coisa, faz outra. Quem não se expressa das outras formas, usa as palavras, compõe frases, redige sentimentos e opiniões ou conta-os verbalmente. Mas que fazer quando nos assola esta lacuna que me aflige? Não é a ausência, é antes a falta de importância, de significado. Não são suficientemente grandes para expressar tudo o que quero e canalizar ansiedades e desesperos de causa. Gritar, concluo.
Ir pela via do som exagerado parece-me a solução.

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